Uma noite, quando Martin Luther King estava pregando em sua igreja, um assistente chegou correndo com uma mensagem urgente. Uma bomba explodira na casa de King enquanto a mulher e a filha pequena estavam dentro. King correu para casa e foi recebido por uma multidão de várias centenas de negros, assim como o prefeito e o chefe de polícia. Sua família não tinha se machucado, porém as janelas da frente de casa estavam estilhaçadas e havia uma cratera na sua varanda. Se alguém estivesse nos cômodos da frente quando a bomba explodiu, essa pessoa poderia ter morrido. Enquanto King avaliava os estragos, cada vez mais negros chegaram. Os policiais começaram a mandar a multidão se dispersar. Alguém empurrou um policial. Uma garrafa voou pelo ar. Um dos policiais brandiu um cacete. O chefe de polícia, que meses antes declarara publicamente seu apoio ao Conselho dos Cidadãos Brancos, uma organização racista, puxou King de lado e pediu para que ele fizesse alguma coisa – qualquer coisa – para impedir que eclodisse um tumulto.
King andou até a varanda. “Não façam nada por pânico”, ele gritou para a multidão. “Não saquem suas armas. Aquele que vive pela espada irá perecer pela espada.”
A multidão acalmou-se.
“Devemos amar nossos irmãos brancos, a despeito do que eles façam conosco”, disse King. “Devemos fazer com que eles saibam que nós os amamos. Jesus ainda brada em palavras que ecoam através dos séculos: ‘Amais vossos inimigos; abençoai os que vos amaldiçoam; orai por aqueles que vos tratam com desprezo.”
Era a mensagem de não violência que King vinha pregando cada vez mais, havia semanas. Seu tema, baseado nas palavras de sermões de Gandhi e de Jesus, era em vários aspectos um argumento que os fiéis não tinham ouvido naquele contexto antes, uma invocação ao ativismo pacífico, ao amor triunfante e ao perdão de seus agressores, e uma promessa de que aquilo lhe traria a vitória. Durante anos, o movimento pelos direitos civis vinha se mantendo vivo, apoiando-se em termos que remetiam batalhas e conflitos. Havia contendas e reveses, vitórias e derrotas que exigiam que todos renovassem seu compromisso com a luta.
King deu às pessoas uma nova lente. Aquilo não era uma guerra, ele disse. Aquilo era um abraço.
Trecho do Livro “O poder do hábito”, de Charles Duhigg